Preciso registrar as minhas impressões do que aconteceu hoje aqui, na Câmara dos Deputados. Estou deixando a Casa agora, saindo do plenário Ulysses Guimarães. É quase uma da manhã desta quarta (26). O que se deu nesta noite, foi uma batalha extremamente cruenta. Sim, essa é a expressão mais apropriada para descrever o que houve nos bastidores dessa votação. Foram cerca de 5 horas de fatigantes debates sobre o acordo do governo brasileiro com o Vaticano, e a votação da PL 5583, que faria o contraponto dando às demais religiões a mesma proteção e igualdade que o acordo trouxe à igreja católica, trazendo multiplicidade e democracia, ao pluralismo religioso do Brasil.
Apresentamos o projeto de lei de autoria do deputado Jorge Wilton, (PL 5583) e a primeira parte do debate aconteceu sobre o acordo com o Vaticano.
Houve posteriormente a votação de nosso PL 5583, que regulamenta as relações do Estado com as religiões do Brasil. Também havia o acordo pelo voto dos líderes dos partidos.
O documento é bastante democrático, embora alguns juristas achem que a constituição prescinde dessa normatização e regulamentação. O documento visa proteger as demais religiões nos mesmos aspectos e itens do acordo que o governo brasileiro fez com o Vaticano, para que possamos reintegrar o caráter democrático e religioso e o Estado laico no Brasil.
Nossa maior desvantagem foi a de não poder usar a palavra, e ter que abrir mão do tempo de defesa daqueles que falariam á favor do projeto, porque a oposição queria nos levar aos debates, expirando assim o tempo regimental de votação em plenário.
À meia-noite em ponto, conseguimos votar e aprovar a matéria.
Porém, o que mais nos impressionou, foi a ira e o ódio estampado nas falas, nas expressões de alguns de nossos parlamentares, especialmente aqueles que acham que a igreja é uma instituição “non grata”. Não se deixem enganar, pois há um grande número de deputados que na época das eleições, vão aos nossos templos, conversam com nossos membros pedindo os seus votos, mas propositadamente, omitem suas posições a respeito da vida, da família e do evangelho. Todavia, em momentos como esse, fica desnudado e exposto todo pensamento. Ali a ira aflora sem censura, toda hostilidade vem à tona, todo ranço que possuem contra o evangelho e contra a Igreja do Senhor Jesus é revelado.
Saio esfarrapado desse embate. Fui vomitado. Saí de uma batalha onde tivemos que suportar todos os desaforos, as expressões mais hostis e insolentes, e com um fato agravante, sem poder reagir. Nem ao menos pudemos utilizar da palavra para nos defender, ou cairíamos na manobra da oposição de estender o debate, encurtando o tempo precioso, e perdendo assim o objetivo principal; - a aprovação da matéria!
Em momentos assim, você sente toda a força e malevolência de um ataque, de uma verdadeira guerra espiritual. O ar se torna pesado e todos os sentidos estão em alerta. Sentimos no corpo toda tensão de uma decisão que pode ter consequências severas que podem perdurar por vários anos, afetando toda nossa sociedade, alterando o destino de nosso povo e de nosso país.
Todos nós que estávamos presentes e assistimos a esse debate (um verdadeiro embate), saímos com uma convicção; - a nossa paz só depende da nossa guerra. Só temos vida e paz porque temos uma presença profética extremamente forte e posicionada. No dia em que a bancada evangélica e cristã, enfraquecer ou diminuir, ou ainda, perder sua expressão nesta Casa, eu afirmo, com absoluta convicção, que estaremos entrando em um novo momento, aonde a força e a presença da Igreja será reduzida em quase toda sua totalidade em nossas comunidades e cidades.
A posição que tomamos hoje foi objeto da consulta que fizemos aos líderes denominacionais, aos presidentes dos conselhos de pastores, na manhã de ontem, no San Marco Hotel. Em uma iniciativa da Frente Parlamentar Evangélica, que convidou a todos, para que juntos pudéssemos tomar uma decisão em relação à melhor estratégia de atuação, frente a essa matéria. Ficou finalmente acordado que agiríamos em duas frentes, como foi feito hoje aqui no plenário.
Que Deus nos ajude e nos abençoe para que essa matéria passe no Senado brasileiro, e que cada dia mais tenhamos a capacidade de enxergar o mundo espiritual e a guerra, que tantas vezes se levanta contra nós. A Igreja precisa definitivamente estar atenta e não tirar o pé de sua participação política, de sua responsabilidade social, porque disso depende a nossa sobrevivência.
Deputado federal, bispo Robson Rodovalho
Obs: Gravei minhas impressões acerca do ocorrido no dia 26/08/09 e agora transcrevi, especialmente para essa postagem no Blog.