VICIADOS EM MORBIDEZ

Posted by Bispo Rodovalho | Posted in , , , , , , | Posted on 18:25


Boa noite a todos! Envio esse texto para compartilhar com vocês o que li pela manhã. Confiram na íntegra.
Esse é o primeiro post no novo endereço. 
Graça e paz!


Bispo Rodovalho




"Disseminou-se entre os que são considerados cristãos sérios uma atitude de crítica constante, cáustica, cruel, muito mais cruel que as críticas externas. Nasceram até ministérios com a missão quase exclusiva de criticar, julgar, difamar qualquer proposta".


Há um tempo no Manhatan Connection discutiu-se o crescimento das igrejas evangélicas neste momento de crise econômica. Aparentemente o número de frequentadores de igrejas nos EUA aumentou a ponto de se tornar notícia na grande imprensa americana. Os comentaristas do Manhatan tentavam entender os evangélicos no contexto cultural americano atual: o incentivo ao crescimento econômico proveniente das teologias da fé e sucesso pregadas por muitas igrejas, a esperança produzida pela união das pessoas em comunidades solidárias que servem de estímulos para novas iniciativas econômicas e para o desenvolvimento de indivíduos e famílias, a recuperação de indivíduos que antes eram um peso na sociedade e agora, com a ajuda da fé se tornam produtivos.

Foi muito esquisito aquilo, ouvir jornalistas falando bem da fé evangélica e das igrejas que costumamos espinafrar: as igrejas da teologia da prosperidade. Apesar de eles estarem comentando um fenômeno americano o que diziam podia ser facilmente aplicado ao Brasil. Por mais que eu e muitos críticos do movimento neopentecostal não gostemos de admitir o crescimento das igrejas de fé vai mudando positivamente o perfil da população brasileira. Até a Universal, a mais controversa das denominações, onde dificilmente se reconhece algum princípio do evangelho, aporta uma contribuição positiva para o desenvolvimento sócio-econômico brasileiro.

Apesar de todo sincretismo, de todos os erros teológicos, de todos os escândalos das lideranças, dos abusos e absurdos das interpretações equivocadas da fé vem produzindo o Cristianismo é sempre uma religião socialmente do “bem” e seus subprodutos também serão do bem. As distorções tem seus efeitos colaterais negativos, mas o sintoma geral é de cura. O que não me parece de “bem” hoje é a postura de crítica dos próprios cristãos. Disseminou-se entre os que são considerados cristãos sérios uma atitude de crítica constante, cáustica, cruel, muito mais cruel que as críticas externas. Nasceram até ministérios com a missão quase exclusiva de criticar, julgar, difamar por todos os meios possíveis qualquer proposta neopentecostal ou neo-alguma coisa. Embates pessoais entre figuras do meio gospel, jornalistas e pastores viraram lugar comum. Algumas discussões são tão rasteiras que não perdem para briga de botequim.

Livros com Porque você não quer mais ir à Igreja e blogs que se especializam em divulgar o ridículo da cultura Gospel, pregadores do anti-movimento posam de iconoclastas proféticos propagando essa nova modalidade de “denominação” cristã, a anti-igreja. Grande parte da energia desses novos crentes é gasta em antagonizar propostas da religião instituída.

Infelizmente, de acordo com minha observação pessoal, esta postura não libera estes membros destes novos movimentos para uma vida de fé mais simples e produtiva. Teria sido interessante se no meio de tudo isso tivesse nascido um novo grupo de cristãos com mais tolerância e coração mais aberto que entendesse o Reino acima das propostas denominacionais e que fosse capaz de circular entre as mais diversas formas culturais de cristianismo, contribuir com todas com respeito sem anuir aos erros.

Mas não, a atitude desenvolvida pelos antagônicos é a de completa intolerância. Ao invés de encontrarem graça a perdem. Se sentem acima do bem e do mal e se especializam em encontrar defeitos e problemas em tudo e em todos.

Cristãos assim geralmente se tornam pastores de sua própria denominação de um só membro. As marcas e feridas que trouxeram de suas experiências anteriores estão protegidas por uma elaboração racional que impede o processo de cura. A culpa é sempre dos outros, do sistema, da intolerância religiosa, dos pastores e líderes abusivos. Como vítima, não sou chamado ao arrependimento, tenho razão para as minhas dores, não preciso repensar minhas atitudes ou reconhecer meus próprios erros. Jovens adeptos da neo-iconoclastia não aceitam mais padrões de comportamento nem moralidade de qualquer espécie. Toda moralidade é taxada de moralismo, toda “experiência” supostamente tem o consentimento de um Deus que me entende.

Ouvi um crítico dizer outro dia que a Sexxx Church é o velho Jaime Kemp e seu moralismo sexual disfarçado para o século XXI. Choquei-me com o comentário cáustico, mas vazio. Jaime Kemp fez um bom trabalho na minha geração ensinando moral sexual e os valores familiares numa linguagem acessível. A Sexx Church faz hoje a mesma coisa, contextualizando a forma e mantendo o significado, ou seja, mantendo os padrões bíblicos que nem eles, nem o Jaime Kemp inventaram. Será que os jovens de hoje não precisam de ensinos sobre uma sexualidade saudável? Propor um cristianismo que não estabelece limites morais, que não define padrões para a sexualidade é negar uma parte essencial da proposta cristã. Existem padrões estabelecidos para a convivência humana na terra que a nós cabe simplesmente aceitar, mas no vale-tudo anti-institucional vale até rejeitar a idéia de pecado, de submissão a um código moral qualquer um ainda que rotulado de cristão.

Fico com a simplicidade da fé e não com a morbidez da intelligentsia cristã. A essência Jesus pode ser embalada com muitas mentiras, e infelizmente nenhum de nós escapamos de equívocos, julgamentos culturais e ambições pessoais que deturpam Sua palavra. Mas mesmo assim Ele continua sendo o caminho, a verdade e a vida, o Deus verdadeiro capaz de milagres, redenções e perdões impossíveis, capaz de se comunicar com todos como Deus vivo que é.

Artigo escrito por Bráulia Inês Ribeiro. Ela está na Amazônia há 25 anos como missionária, é presidente nacional da JOCUM (jovens Com Uma Missão) e autora do livro O Chamado Radical (Editora Ultimato).

Comments (1)

Muito bom o texto. Que Deus abençoe a escritora e esse trabalho tão maravilhoso que é o JOCUM e que Deus abençoe o Bispo Rodovalho cada dia mais.

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